Eu não sei.
Veio da infância, quando ainda fazia o curso primário (fundamental de hoje), sem nada para me inspirar, a não ser a Radio Globo, cujas ondas chegavam ao sertão de Goiás.
E aí a gente ficava torcendo pelos times do Rio de Janeiro. Sem nenhuma relação de intimidade com nenhum deles. A não ser estas coisas inexplicáveis, como escolas de samba, partidos políticos e religião.
Eu mesmo, nunca tive habilidades para o futebol. Que é uma atividade preciosa, cujo talento vem de complexos reflexos nervosos e musculares, força, repetição e muita disciplina. Por fim, tratei de me colocar no meu lugar. Mesmo lá onde nasci, passei a devotar a um novo e necessário perfil, que foi o de torcedor, de roupeiro do time, lavar as camisas e calções do Guarani.
Certo dia, num jogo com muita rivalidade local, machucaram dois titulares e terminou que não tinha mais ninguém para entrar. Tio Totó que era o Presidente do Guarani e acumulava também a função de técnico, com muita moral, ninguém o contestava, ficou num enrosco do diabo, teve que me escalar.
O adversário era o Juventus, dirigido pelo Jarbas, forasteiro de Minas Gerais, que trabalhava como técnico de explosivos na Mina de Ouro da cidade. O “buraco do ouro” ficava ali bem perto.
Jarbas, cheio de manhas, tinha “comprado” alguns dos nossos melhores jogadores, como o Afonso, meu primo, bom goleiro. Deu pra ele uma camisa novinha. Para José de Ambrosina, um par de chuteiras. E assim outros “contratados”, por valiosos presentes para nossa realidade, que o nosso time não tinha condição de cobrir as ofertas.
Quem era Jarbas para nos humilhar tanto?
Eu entrei ainda no primeiro tempo, em ótimas condições, o nosso time ganhando por 2 x 0. Pois bem! Não tardou o Zé de Ambrosina desembestar com a bola. Lá vinha ele, como um capeta de uniforme; passou por dois numa velocidade de cavalo campeiro. Encostei nele, e ele correndo a mil. Não tive outra opção, senão tentar jogar a bola para o escanteio, mas deu tudo errado, e acabei fazendo um gol contra, sensacional.
Cantídio, nosso goleiro, me olhou com tanta raiva, que fiquei de orelhas caídas, e mesmo assim, por não ter outro jogador, continuei em campo. E ainda no primeiro tempo, marquei o meu segundo gol contra, sempre perseguindo o endiabrado centroavante, Zé de Ambrosina.
Continuei torcendo pelo Guarani, mas me conformei em ser o roupeiro com muito orgulho. Também me foi confiado, ser o escriturário do time – carregar os livros e fazer as atas. Por infelicidade, naquele inesquecível jogo, o Guarani perdeu por 3×2. Como jogador, fiquei marcado pelo pecado original. Nunca mais fui escalado.
Até hoje não fui a nenhum estádio ver o Flamengo jogar, mas, gosto do nome do time. Ele entrou na minha alma, sem nenhum motivo. Todas essas coisas que a gente segue por seguir, briga por brigar e veste a camisa por vestir.
Sou torcedor do nome (Flamengo). Gosto da garra do Paquetá, do Guerreiro, do Diego, gosto de ver o time vencer, mas, logo me conformo com as derrotas. Sou um torcedor esquisito.
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